Por Izis Abreu*
A segunda edição da exposição "Donas da História" homenageia seis líderes comunitárias que atuam em bairros periféricos de Porto Alegre: Rozeli da Silva, Sandra Ferreira, Catarina Machado, Elis Regina de Vargas, Marli Medeiros e Iracema Gãh Té. Este projeto curatorial visa exaltar e dar visibilidade às trajetórias dessas mulheres, cujas histórias são marcadas por agência, força e determinação.
Os/As artistas visuais Moara Tupinambá, Tiago Madruga, Rusha, Silvana Mendes, Uendel Nunes e Renaya Dorea assinam as obras, criadas a partir da apropriação do retrato dessas líderes, utilizando a técnica de colagem artística digital. A partir de suas representações, busca-se não apenas uma homenagem, mas a promoção de um amplo debate e reflexão sobre os lugares sociais ocupados por mulheres negras em nosso país.
O recorte de gênero e raça desta exposição se justifica pela vulnerabilidade histórica e social enfrentada por este grupo. Dados sociais revelam que, das 11.053 milhões de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge, 62% são negras. Segundo o portal Geledés, 63% dessas casas estão abaixo da linha da pobreza. O estudo "Retrato das Desigualdades de Gênero e de Raça", desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ONU Mulheres e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), destaca que, na intersecção entre classe social, gênero e raça, as mulheres negras ocupam a base da pirâmide social no Brasil. Elas recebem os menores rendimentos no mercado formal e são majoritárias no trabalho doméstico.
A exposição "Donas da História" problematiza os discursos que sustentam essa realidade desigual por meio da pesquisa de narrativas silenciadas em nossa sociedade. Visa tornar visível este grupo identitário historicamente negligenciado e lançar um olhar crítico sobre os processos de estratificação que colocam as mulheres negras em posições subalternas e/ou de sexualização. Nosso objetivo é resgatar, valorizar e difundir a memória e o protagonismo de mulheres que não se curvam ao lugar social imposto por uma sociedade racista, tornando-se senhoras de seus próprios destinos.
Com esta mostra, esperamos fomentar a valorização dessas líderes comunitárias e abrir espaço para discussões necessárias sobre igualdade racial e de gênero, ampliando a compreensão e o respeito pelas histórias e lutas dessas mulheres extraordinárias, que são exemplos para as novas gerações.
Idealização: Clarissa Lima e Izis Abreu
Curadoria: Izis Abreu