Maurice Gras: do Palácio Piratini aos Salões de Paris
Neste episódio da série “Contornos”, um pouco da história de Maurice Gras e o projeto do Piratini

Maurice Gras nasceu em Paris em 16 de janeiro de 1873, uma semana após a morte de Napoleão III. Com o último imperador dos franceses dividia também os nomes Charles Louis. Entretanto, Charles Louis Maurice Gras, diferente do imperador, nasceu em um meio menos aristocrático, mas afeito à formação erudita. Sabe-se que o pai foi um funcionário de banco chamado Achille Pierre Gras e sua mãe, Blanche Eugénie Dobelle, uma jovem de então 22 anos. O futuro arquiteto do Palácio Piratini nasceu ao fim do segundo império francês no alvorecer da Terceira República.
O país ainda vivia sob o fantasma da guerra Franco-prussiana e em meio a grande transformações. Tal efervescência cultural acabou por refletir em correntes políticas e filosóficas que reverberaram até mesmo em países do novo mundo, e cujos ecos ressoam ainda nos dias de hoje. As tensões advindas das modificações sociais, se por um lado eram pontos nevrálgicos no estado de coisas, por outro fizeram com que eclodissem as sementes de um período de ouro no concernente à beleza e inovação. Gras teve sua primeira infância nos anos iniciais do período conhecido Belle epoque, e seus anos de juventude na época de relevantes movimentos artísticos como o art noveu.
Em sua formação acadêmica passou por instituições como a École Fénelon e o Liceu Condorcet, lugar em que contou com a orientação de Honoré Daumet, (1826-1911) arquiteto responsável, dentre diversos trabalhos, pela construção da fachada oeste do Palácio da Justiça em Paris, reconstrução do Palácio de Chantilly e da capela do Palácio de Versailles. Após uma tentativa malsucedida de admissão, logrou uma vaga na escola de Belas Artes em 3 de agosto 1893, quando contava apenas vinte anos. Já em 1899, 3 anos antes de sua formatura, arrebataria o 1º lugar do Godeboeuf Prix, por um projeto apresentado de uma creche para os filhos dos operários do centro de Paris. Antes de sua vinda ao Brasil, Gras ainda atuaria como inspetor de obras públicas da capital francesa e como arquiteto em construções civis e prédios públicos.
Foi após a Secretaria de Obras Públicas lançar em Paris o edital que abria um concurso público para encontrar um novo arquiteto para o Palácio do Governo que Maurice Gras, em visita ao Brasil contando 36 anos, foi apresentado ao presidente do estado Carlos Barbosa Gonçalves pelo cônsul Octave Courtheil. O arquiteto propõe desenvolver um projeto para a nova sede do governo do estado. O projeto, dividido em duas esplanadas reunidas por escadarias teria influência neoclássica, visível em suas colunas jônicas e cantoneiras reproduzindo folhas e flores evocando em suas linhas o Petit Trianon. A empreitada foi aceita, e o contrato lavrado para um projeto de tal magnitude foi assinado em 7 de abril de 1909. Para fiscal da obra foi nomeado o engenheiro Hipólito Fabre, nascido na França, porém naturalizado brasileiro desempenhando a função anteriormente ocupada por Affonso Hebert. Ainda que não haja documentos que comprovem suas relações, estima-se que por terem frequentado a Academia de Belas Artes e provavelmente os mesmos círculos artísticos, Maurice Gras fosse amigo do escultor Francês Paul Landowski “o escultor do Cristo redentor”, já personagem do nosso “Contornos” . E em 1914, talvez por influência de Gras foram encomendadas ao escultor os conjuntos escultórios que adornam as fachadas norte e sul da Ala Governamental.