Obra histórica encomendada por Borges de Medeiros passa por primeira etapa de restauração
Recuperação de “Proclamação da República de Piratini” inicia com estudos técnicos em POA e seguirá em laboratório da UFPel

A jornada para recuperação de uma das pinturas de história mais significativas da arte do Rio Grande do Sul começou nesta segunda-feira (10/3). Uma equipe do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está em Porto Alegre para as primeiras avaliações técnicas da obra “Proclamação da República de Piratini”, de Antônio Parreiras, originalmente encomendada por Borges de Medeiros em 1911. Ao final desta fase, na sexta-feira, a obra será desmontada e acondicionada para ser transportada até Pelotas, onde a restauração seguirá.
Nove profissionais da UFPel, entre professores, técnicos e estudantes, atuarão nesta primeira etapa, que inclui fixação emergencial e faceamento da camada pictórica e exames de raio-x, infravermelho e ultravioleta para diagnóstico do estado de conservação da pintura. A conservadora-restauradora do Palácio Piratini, Fernanda Rodrigues, e a historiadora Luciana de Oliveira, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS), também acompanharão os trabalhos. A coordenação é da professora Andrea Bachettini, responsável pelo Laboratório Aberto de Conservação e Restauração de Pinturas (Lacorpi) da universidade.
O projeto está sendo viabilizado a partir de um novo acordo técnico de cooperação firmado entre a UFPel e o governo do Estado, por meio do Palácio Piratini. A parceria prevê o envolvimento de corpo técnico da universidade na restauração de peças do acervo do Palácio, como plantas históricas e tecidos, além da pintura de Parreiras, originalmente concebida para decorar a sede do governo gaúcho.
Entre os principais desafios para o restauro da peça está o tamanho da pintura, que ocupa uma parede inteira, com mais de seis metros de largura por três de altura.
"Tudo precisará ser estudado e adaptado para lidar com uma obra dessas dimensões. Inclusive, será necessário construir uma mesa para que a pintura não precise ser restaurada diretamente no chão", explica Andrea Bachettini.
Parte da equipe que participa desta nova empreitada atuou no projeto anterior que restaurou 17 pinturas de cavalete pertencentes ao acervo do Piratini, em 2022, dentro das ações comemorativas ao centenário do Palácio, quando o governo e a UFPel firmaram a primeira parceria. Alguns dos profissionais também integraram a força-tarefa que recuperou obras do Palácio do Planalto vandalizadas em 8 de janeiro de 2023.
Pinturas que registram a história do RS
A obra de Antônio Parreiras foi a primeira de um conjunto de pinturas de grandes dimensões encomendadas nas primeiras décadas do século XX pelo governo gaúcho para retratar episódios marcantes da história política do Rio Grande do Sul.
Atualmente instalada no 4º Regimento de Polícia Montada da Brigada Militar, a obra também é chamada de “Proclamação da República Riograndense”. Nela, o artista retratou o general Antônio de Sousa Neto liderando suas tropas no momento histórico da Proclamação da República de Piratini, em 11 de setembro de 1836. Esse ato marcou a consolidação do movimento de independência gaúcho iniciado no ano anterior. A peça foi concluída e entregue ao Estado em 1915.
Além desta obra, também foram solicitadas posteriormente por Borges de Medeiros as pinturas “Retrato de Bento Gonçalves” (1915), também de Parreiras; “Expedição a Laguna” (1916), de Lucílio de Albuquerque; “Fuga de Anita Garibaldi” (1919), de Dakir Parreiras, filho de Antônio; “Batalha da Ponte da Azenha” (1922) e “Chegada dos casais açorianos” (1923) de Augusto Luís de Freitas. “Do Rio Grande do Sul para o Brasil” (1925), de Helios Seelinger, encomendada por Osvaldo Aranha como presente para Borges de Medeiros, fecha o conjunto.
O objetivo era que essas peças ornamentassem o novo Palácio do Governo. A partir dos anos 1930, no entanto, as pinturas foram gradualmente redistribuídas para outras instituições. Atualmente, exceto "Proclamação da República de Piratini", as pinturas de Antônio e Dakir Parreiras, bem como a de Seelinger, estão no Museu Histórico Farroupilha, em Piratini. Já as obras de Augusto Luís de Freitas e Lucílio de Albuquerque encontram-se no Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre.